Fonte: PUCRS 2020
De modo geral, a burocracia costuma ser uma das principais características do sistema bancário. Mas, e se surgisse uma iniciativa que se propusesse a oferecer os mesmos — e mais — serviços de bancos tradicionais, porém, sem burocracia?
Portanto, Fintechs são organizações focadas em qualidade e rapidez de atendimento, agilidade e total desvinculação da burocracia. Etimologicamente, o nome surge da combinação de dois termos em inglês financial (financeiro) e technology (tecnologia). Uma fintech, entretanto, vai além da tecnologia financeira e conversa com o novo modelo de organizações exponenciais.
O que uma fintech se utiliza, principalmente, é da facilidade possibilitada pela digitalização dos processos. Costumam funcionar através de aplicativos, abrindo mão de papeladas, filas e métodos demorados que sempre estiveram atrelados aos bancos comuns.
Tal qual uma organização exponencial, são focadas em desmaterialização, digitalização e desmonetização, por mais que isto soe irônico em se tratando de uma organização financeira.
Isto ocorre porque os processos, pelos meios digitais, se tornam muito mais baratos. Então, as fintechs abdicam de grandes estruturas dos grandes bancos.
O mercado de fintechs não para de crescer também no Brasil. Já passa dos 66% em uma análise que compreende 2017 e 2018, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
No Brasil, temos o maior número de empreendimentos financeiros baseados em tecnologia. São mais de 600 fintechs em plena atuação. E duas em cada três fintechs estão em estado avançado de desenvolvimento, oferecendo muitos serviços comuns aos bancos e sistemas financeiros tradicionais.
Isto é possibilitado pelo avanço dos sistemas digitais, quando grande parte das operações bancárias podem ser feitas de maneira online. As fintechs crescem cada vez mais porque possibilitam que pagamentos, transferências, empréstimos e financiamentos sejam feitas através de um celular. Quem não quer uma facilidade como esta?
Quais são as características de uma fintech?
A principal característica das fintechs é oferecer serviços 100% digitais. Isso é possibilitado pelo avanço da tecnologia e das transações online. O foco na experiência do cliente é outro ponto a ser destacado. Os conceitos de consumer experience e design thinking estão em seus DNAs.
A prioridade de uma fintech costuma ser a de entregar produtos focados na experiência, suprindo necessidades e personalizando as entregas. Ao operar baseado em uma estratégia de dados, a tecnologia permite que use de big data, business intelligence e inteligência artificial em seus processos.
Com essa tecnologia, desenvolve constantemente atualizações de seus sistemas e portfólio de serviços. Como empresa de tecnologia, as fintechs não têm receio de inovar, testando recorrentemente novas funcionalidades e alterações em seus modelos de negócio.
Estão a todo momento buscando aprimoramento de seus produtos e serviços, observando atentamente a reação do seu público. Outra característica importante é o olhar amplo para o mercado, identificando áreas inexploradas e suprindo vácuos.
Diferença entre fintechs e bancos tradicionais
Claro que essas duas instituições se aproximam em vários pontos, analisando perfil dos clientes para a segurança de suas transações, por exemplo.
É fato, no entanto, que a digitalização dos sistemas automatizados possibilitam mais rapidez às fintechs. Os bancos tradicionais, em contrapartida, continuam tendo as agências físicas como principal ponto de contato e atendimento aos seus clientes. As operações de fintechs são em ambientes 100% online.
As fintechs costumam operar com taxas muito menores, ou mesmo sem taxas, em diversas operações que são fonte de renda para bancos tradicionais.
Segundo Marcelo Bradaschia, um dos maiores especialistas em tecnologia financeira do Brasil, e um dos professores do PUCRS Online, as fintechs tiveram a perspicácia de pegar coisas do mundo físico e traduzi-las para o mundo digital.
Fintechs no mercado financeiro
O Brasil vive o melhor momento para abertura de fintechs.
Um dos motivos é a desproporcionalidade gigantesca do mercado brasileiro, comparado com a realidade de outros países. Para muitos especialistas, estes são outros elementos que privilegiam a abertura de novas fintechs:
- Avanço da tecnologia
- Regulação adequada
- Empenho dos consumidores na valorização de soluções inovadoras e disruptivas
Os modelos de negócio das fintechs estão sendo cada vez mais incorporados por organizações de grande porte. As fintechs estão levando as pessoas a questionarem o preço exacerbado de determinados serviços.
Isso faz com que todo o mercado financeiro tenha que rever seus modelos para se livrar de modelos e processos burocratizados e caros. A oferta de serviços melhores e mais baratos leva as grandes instituições financeiras a prestarem melhor seus serviços.
Panorama mundial
Muitos especialistas consideram o PayPal a primeira fintech no mundo. Fundada em 1999 nos Estados Unidos, a ferramenta permite fazer pagamentos e transferências sem a intermediação de bancos.
Hoje, as maiores fintechs do mundo ficam nos Estados Unidos, ou concorrendo com bancos maiores ou se tornando parceiras.
O setor é composto por milhares de empresas, normalmente não oriundas de companhias pré-existentes.
Há algumas tentativas de disrupção maiores nos Estados Unidos, como serviços que transmitem transações de bitcoin em tempo real por meio de satélites.
A China também tem um papel importante no mundo, com um cenário ocupado por empresas que possuíam milhares de usuários.
Empresas como Baidu, Alibaba e Tencent são novos players neste mercado. São big players como estes os responsáveis por puxar o bilionário mercado de fintechs na Ásia, investindo pesado em novas tecnologias.
O Brasil, por sua vez, figura em um contexto que não movimenta cifras nos mesmos patamares do mercado estadunidense e chinês. Porém, tem levado acesso a uma população antes “desbancarizada”, principalmente nos últimos três anos.
Os próprios fundos de venture capital estrangeiros têm olhado e realizado investimentos nas fintechs brasileiras, por identificar este potencial. A concentração no mercado bancário brasileiro e as altas taxas de juros cobradas por tomadores de crédito abre um grande espaço para a concorrência.
Atualmente, quatro bancos detêm 80% do mercado de crédito no Brasil. As fintechs estão, obviamente, atentas a isso. O apelo de experimentar o novo também tem motivado as novas gerações desapegadas de valores tradicionais.
Pessoas mais jovens aderem às fintechs, atraídas por suas estratégias de aquisições de clientes no boca a boca, com pouco gasto em marketing.
Como se tornar uma Fintech?
O Banco Central do Brasil (BC) editou a Resolução 4656 regulamentando as fintechs de crédito no formato de Sociedade de Empréstimo entre pessoas (SEP) e Sociedade de Crédito Direto (SCD).
Para se encaixar nos critérios do BC é preciso uma estruturação própria, como constituir a empresa na forma de Sociedade Anônima e ter um capital social de, no mínimo, R$ 1.000.000,00.
Há, ainda, aspectos fundamentais para que a fintech possua estrutura jurídica robusta e atenda aos requisitos para realizar o requerimento, conforme estabelece o BC.
É preciso também uma definição clara dos agentes e papéis da empresa, desde diretoria, conselhos de administração e fiscalização e demais sócios.
Com esta definição se torna possível, junto a outros fatores exigidos, ter a devida autorização de funcionamento para SEPs e SCDs.
Ainda há algumas outras políticas a serem instauradas dentro de uma empresa como estas:
- Prevenção e práticas de corrupção e lavagem de dinheiro
- Prevenção a conflito de interesses
- Fornecimento e uso de informações privilegiadas
- Código de ética e de conduta
- Divulgação de informações
- Contribuições e doações
É extremamente importante abordar aspectos e se pautar em estruturas de Governança Corporativa para estruturar juridicamente a fintech de crédito.
Conclusão
Como vimos neste artigo, o crescimento das fintechs é uma realidade no mercado financeiro mundial.
Segundo pesquisa da PriceWaterhouseCoopers, cerca de 23% dos executivos de grandes bancos dos Estados Unidos acreditam que as fintechs vão colocar os negócios das maiores empresas financeiras em risco em 5 anos.
Já a pesquisa da Goldman Sachs dá conta que cerca de 33% dos millennials acredita que, em cinco anos, não precisarão ter conta em banco.
A grande inovação promovida pelas fintechs tem sido responsável por esta grande mudança no cenário financeiro mundial.